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"As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas. Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida: Também precisa ser sonhada."
Mario Quintana

quarta-feira, 30 de março de 2022

GERAÇÃO EM EXTINÇÃO Recebi de um amigo um vídeo muito interessante que mostrava as gerações anos sessenta e setenta, levando qualquer pessoa, independentemente da idade, a refletir sobre a vida como era e como está no exato momento. Não vou aqui falar mal de uma ou de outra e, sim, concordar dizendo “é verdade, estamos entrando em extinção". Fazemos parte daquela geração sem celular ou qualquer outro tipo de tecnologia mais avançada. Tínhamos o telefone fixo como artigo de luxo em nossas casas. Primeiro ele era preto e depois vieram os coloridos, que, ao discar, faziam um barulhinho que nos enchia de satisfação. Quando tocava então? Nossa! Fazia trililim, trililim, trililim. Esperávamos chegar em casa para saber quem ligou ou deixou recado. Hoje, não se tem sossego, tudo é pra já. Noticia ruim, noticia boa. Saudades do tempo em que não se tinha ansiedade por causa dos recados ou ligações. E as cartas de amor? Essa era a melhor parte desses tempos glamourosos. Quando víamos o carteiro subir a ladeira, já estávamos no portão pra perguntar: "Tem carta pra mim?” Brincávamos de “Caçador”, “Mamãe, posso ir?”, “Esconde-esconde”, “Pega-pega”, andávamos de carrinho de lomba e bicicleta. A bicicleta era compartilhada por todos e o carrinho de lomba chegava a arrancar pedaços dos dedos nas freadas, mas isso não era problema. Nada que um Merthiolate não curasse. Éramos magrinhos, pois caminhávamos muito para ir ao colégio e só pegávamos ônibus quando chovia. E chovia! Chovia muito no inverno rigoroso do Sul e nossas mães não davam moleza não. Elas geralmente gritavam na porta do quarto: “Levanta e te manda pro colégio!” Quando respondíamos pra mãe, o chinelo voava igual a um drone no espaço e quando não achávamos as coisas, a mãe dizia: “Se eu for ai, vou esfregar na tua cara”. Subíamos em árvores e íamos em comboio para praia. Geralmente, Pinhal, Quintão, Cidreira. E lá tomávamos um torrão ao sol de tanto correr para a água pra ver quem faria o melhor jacarezinho. Os guris geralmente perdiam o calção de banho nas ondas nada calmas e as gurias perdiam a parte de cima do biquíni. Era aquela zoada! As mães puxavam as orelhas da gente e ficávamos por alguns instantes com “cara de tacho”. Até começar tudo novamente. Bah, mas tem muita coisa dessa época que foram relevantes e fizeram diferença em nossa formação, por exemplo, respeito aos professores e aos mais velhos. Estudávamos para as provas, íamos à biblioteca publica consultar a enciclopédia Barsa e tínhamos que pensar muito cedo qual a profissão teríamos que escolher e já engrenávamos no estudo para passar no vestibular. Passando ou não, tínhamos que trabalhar e estudar à noite. Não desistíamos de nada! Sempre “tocando em frente porque atrás vem gente”. Essa geração que não se cansava e não tinha tempo pra nada são os profissionais de hoje. Que orgulho! Mas estamos partindo, pois “ninguém fica pra semente" Muitos já se foram dessa jornada terrena, porém, o legado ficará para sempre, quando alguém, na idade adulta, lembrar-se da primeira professora, do médico da família, do primeiro dentista, do motorista do táxi que contava historias e da liberdade que tínhamos em ficar na rua conversando até tarde. C'est la vie! Rejane Pinheiro Recanto das Letras 22/03/22

Monóculo da infância

Ao ampliar a lente da câmara do meu celular, para registrar uma foto como essa, a nostalgia bate forte. Isso porque penso na infância quando tínhamos um monóculo de latão, herdado de meu avô materno, bem antigo, de lente excelente para nossa visão de criança. Eu e meu irmão disputávamos o monóculo para ver os navios de perto e também a Ilha da Pólvora e não era nada banal, era sempre diferente, sempre lindo. O monóculo nunca mais vi e acredito ter ficado sepultado na desativação do porão. Esse porão na minha infância servia para guardar alguns brinquedos estragados que não tínhamos coragem de jogar fora, tipo triciclos, monaretas, jipes de lata, carrinhos de lomba, carts (carrinho com pedais) bonecas sem cabeça, coleção de vidros de perfume vazios e algumas garrafas coloridas. Pensávamos que um dia iríamos consertar tudo isso, porém, a gente cresceu e à medida que crescíamos ficava distante a possibilidade de conserto. Consertar pra quê? Não caberíamos mais nos brinquedos. Mesmo assim, o apego nos impedia de descartar e, sendo assim, no lugar da porta de acesso ao porão foi erguida uma parede e lá ficaram nossas lembranças. Lembranças grandes no afeto e que para sempre ficarão guardadas no coração.