Na pandemia

Em tempos de pandemia

Na abstemia dos dias

Escondemos nosso sorriso

Pois temos que ter juízo

Na proteção de nossas vidas

Não sabemos lá na frente

Se tudo está certo

Pois tudo parece incerto

Na dança do dia a dia

Sabemos que nosso sorriso

Agora escondido,

Nos força a demonstrar no olhar

O que os lábios não vão mostrar

Tudo parece escondido

Menos o que se sente

Pois nada ficou mais urgente

Do que interpretar um olhar

Quem não costuma ler os olhos alheios

Decerto ficará perdido

Porque agora é conciso

Interpretar teu riso

Na expressão de teu olhar.

O vinho e o silêncio

O vinho me traz harmonia

Que a inarmonia do dia causou

Não quero dormir nesta hora

E sim me deixar levar

Levar pelo pensamento

 

De todo o encantamento

Que essa taça me traz

Descubro então no pensar

Que o pulsar desta hora

Leva-me para o silencio

Silêncio do pensamento

 

De todo o sentimento

Que pulsa o meu coração

Batendo forte pela vida

Ávida e atrevida

Como um brinde deve ser.

Rejane Moreto Pinheiro

04/08/2020

Quando

Quando te vi

Senti algo diferente

Talvez o que muita gente

Espera um dia sentir

Senti um misto de desejo

Que no gracejo daquele dia

Abolia o sentido e a razão

E a razão se perdia num instante

Que relutante tive medo

De me perder num olhar

E até hoje me procuro

Procuro-me e não me acho

Talvez porque os laços

 Fizeram-se um só

E estes laços se fazem

Quando nos vemos capazes

De viver este amor

 E toda vez que o desejo

Num lampejo se revela

Tudo que se espera

 É um caminhar a dois.

07/05/20

No amor

Quem dera eu pudesse aplicar

O que na vida ainda

Não soube explicar...

Pois no amor precisamos de tempo;

Que no entretempo podemos encontrar

Um jeito de olhar diferente

Olhar que não seja soslaio

Mas que mostre como num ensaio

Tudo que vim buscar

Sem ofuscar tua essência

De liberdade e solidão

Mas se quiseres assim experimentar

Digo-te que te darei abrigo

Carinho

 Afeto

 Amor

Pois no tempo que ainda resta

Faremos o que interessa

Pra viver no agora

Pra viver no depois.

20/04/20

Chuva

Quando chove molhando a terra

A natureza não erra lavando

Tudo que encerra os ciclos de nossas vidas

Lava também nossa alma e lágrimas embutidas

Dores que ficaram escondidas

Sem que encontremos o fim

Lava os desejos contidos

Que lá estão escondidos

Sem que possamos revelar

Mas pra ti eu revelo

Que lá no fundo eu espero

Que um dia

Sejamos eu pra ti e tu pra mim.

06/04/2020

Tu chegaste

Tu chegaste

Tu chegaste até mim cauteloso

Pensavas que não seria eu pra ti

E tu pra mim, porém chegaste...

Chegaste desejando tudo aquilo

 Que tua caminhada de vida não te deu.

E eu, me entreguei na certa,

Que um mundo de descobertas

Estava por vir...

E foi assim a nossa história

Rompendo as trajetórias

Que a vida envolvida

Certamente nos deu

Até que resolveste partir

Sem que eu tivesse tempo

De admitir

Que a vida ali se dissolveu

Eu não te dei o último abraço

Apenas um aceno de mão

Fiquei com teu último olhar

Carinhoso sobre mim

Esperaste-me chegar pela última vez

Querias me elogiar pela última vez

Querias me dizer

Eu te amo...

Querias me fazer importante mais uma vez

Saiba...

Eu fui importante

Porque te amei

Mesmo sem ter tido tempo de dizer...

Certa de que partiste com teus  iguais

 Anjos cheios de amor e de luz.

13 /07/2019

Nós

Quando eu desisto de nós

Desisto de nós quando

Perco teu olhar

Quando te olho e não vejo nada

Quando deixo de expressar o que sinto

Quando perco o sentido de tudo

Quando deixo de acreditar

Quando tudo se perde...

Desisto de nós

Quando já não rimos juntos

Quando deixamos de pensar em nós,

Quando a lágrima se faz presente

Quando a alegria se torna ausente

Quando a se perde o desejo de ser dois

Quando se tem saudades de ser um só.

Abril de 2020

LEMBRAR

Certamente vou lembrar-me desta rua

E seus encantos

Minha infância, minha casa.

Meu quintal

Certamente vou lembrar-me de onde se via a lua

De onde se via o sol

Certamente vou lembrar-me

Do maricá florido no inverno

Da extremosa cor de rosa no verão

Certamente vou lembrar-me

Do canto dos passarinhos

Que parece serem os mesmos

Da minha infância querida...

Certamente vou lembrar-me

De todas as vezes que subia correndo

E descia veloz de bicicleta pra cair logo depois no areão

Certamente vou lembrar-me

Quando só tinha um lado da rua pra caminhar

Quando o progresso chegou trazendo as pedras

Quando se dividiu o caminho em dois lados

Um lado da mata fechada...

O outro do meu coração.

By Rejane Pinheiro           26/2020